quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Escolhi a profissão errada?

Gostava de poder dizer que a profissão escolheu-me, que o jornalismo escolheu-me, que foi tudo fruto de um grande feliz acaso. Não foi.

Lembro-me que quero ser jornalista desde os meus 9 anos, altura em que bati pela primeira vez uns textos para o jornal da escola. Sim, aquele primeiro. Sim, aquele que era impresso e vendido aos pais e aos vizinhos. Sim, aquele que não interessava a ninguém mas que era o nosso projecto.

A paixão intensificou-se (e veio para ficar) três anos mais tarde - altura em que assumi um papel mais importante noutro jornal, dentro da mesma escola. Desde então, fiz parte de todos os jornais, de todas as escolas por onde passei. Não havia margem para dúvidas: a menina de cabelo claro e frisado queria ser jornalista.

Seguiu-se a faculdade, um curso feito com paixão, onde dei tudo por tudo enquanto abraçava outros projectos: estágios em jornais e agências noticiosas. Porque queria, porque fazia sentido para mim.
Vieram os estágios não remunerados (muitos) e essenciais ao meu desenvolvimento, veio o trabalho precário (com os falsos recibos verdes) e depois a saída. Tinha sido traída pelo amor da minha vida. 

Não conseguia ser jornalista de cinema, não conseguia ser paga de forma justa pelo meu trabalho (uma empregada de supermercado, sem licenciatura ou grande experiência… recebia mais do que eu). Saí.
Se doeu? Sim, doeu muito e ainda não estou inteiramente refeita. Se estou arrependida? Não, aconteceu porque tinha que acontecer. Mas agora tento o regresso. Sim, tento voltar a todo o custo e não está (nem vai ser) fácil.

Falo com jornalistas com anos de experiência e as palavras são estas: “Não devias ter saído sem um trabalho em vista. Não voltes para o jornalismo. Quero-te bem, não volets para o jornalismo. Aposta em outra coisa, investe num mestrado qualquer”.

As palavras assustam. Será que acabo de cometer o maior erro da minha vida? Quero acreditar que não, ao mesmo tempo que me custa acreditar nas palavras de quem já está cansado, batido pelo sistema e que nunca escolheu esta profissão. Afinal, foi o jornalismo que a escolheu. Entre tanta gente, entre tantos licenciados, entre tantos profissionais… o jornalismo escolheu-a. E deixem que vos diga, o jornalismo fez uma boa escolha.

Quem fez a escolha errada? Eu, muito provavelmente. Fui atrás da visão romântica da profissão (sim, admito-o finalmente) e agora é isto: contratos de 3 meses, recibos verdes, 500 euros, estágios com ajudas de custo (200 euros, se tanto).

Valeu a pena?! Tudo vale a pena quando a alma não é pequena e o jornalismo continua a ser a grande paixão da minha vida.

Um comentário:

izzie disse...

Também já saí e já voltei a entrar muitas vezes nestes 4 anos.

No último bater de porta também ouvi “Não devias ter saído sem um trabalho em vista. Não voltes para o jornalismo. Aposta em outra coisa, investe num mestrado qualquer”."

Mas os mestrados torcem-te o nariz se não são naquela área.
E é difícil não voltar quando dedicamos tanto.

Beijinho,

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